Como me tornei muçulmana
Por: Gisele Marie Rocha
O irmão Nidal me pediu para escrever sobre a história da minha reversão ao Islam e eu faço com muito gosto, mas acho que a história da minha reversão se mistura um pouco com a minha história, a história da minha vida!
Eu não sou descendente de árabes, não sou de uma família muçulmana, mas desde pequena sempre tive uma forte ligação com o meu pai.
E meu pai era grande admirador da cultura e da ciência desenvolvida pelos povos árabes. Com ele aprendi a gostar da comida, da escrita, e a respeitar os sábios e cientistas que surgiram durante a época de ouro do Islam. Conheci através dele o escritor Malba Tahan e deste modo os elementos da cultura árabe que se misturavam nesta época com o Islam sempre fizeram parte da minha vida.
Quando eu era pequena, ao menos uma vez por mês passávamos em frente à Mesquita do Cambuci, e eu ficava admirada com aquele prédio branco cujas torres em minha visão infantil se assemelhavam a foguetes que, acreditava eu em minha inocência, um dia iriam subir ao céu e alcançar a lua! Eu sempre via a mesquita da janela do carro do meu pai.
Da janela do carro do meu pai, também vi uma outra mesquita ser construída. Quando a vi pela primeira vez, ela se parecia com uma grande caixa de tijolos sendo erguida em uma esquina. Eu não entendia direito o que estava sendo construído ali. Imaginava um prédio, mas não haviam janelas. Um dia eu vi finalmente o arco da entrada da mesquita pronto, e pelo seu formato finalmente entendi o que era aquela construção, eu não sabia ainda naquela época o que era de fato uma mesquita, mas já sabia pelo desenho daquele arco que certamente era uma construção que tinha algo a ver com o Islam.
Minha família é católica, e eu fui criada dentro desta religião, fui batizada, fiz catecismo, e herdei da minha mãe a religiosidade que sempre me acompanhou.
Ao longo de toda a minha vida sempre tive uma ligação muito forte com religiosidade, e assim eu fui criada, assim passei minha infância, até que ela foi interrompida por um trágico acontecimento, e mais trágico ainda do que o acontecimento em si foram os danos causados por este trágico acontecimento em mim, danos estes que me fizeram empreender uma verdadeira jornada épica dentro de mim mesma à procura do direito de me restabelecer, durante muitos anos, mais de duas décadas, mas sempre me senti estranhamente guiada por uma força que me manteve íntegra, preservada, e apesar de toda a dificuldade de meu caminho de vida, e de ter provado tantas vezes o gosto da morte, estranhamente eu me mantive inteira, e assim foi até que eu me vi novamente em paz, e reestabelecida.
Ao longo deste período de noite tenebrosa, eu sempre elevava minhas orações a Deus para ser guiada, para conseguir me sentir novamente viva, mas apesar de toda a minha fé, eu nunca poderia imaginar que seria ouvida de uma maneira tão forte como fui, eu nunca poderia imaginar a força das minhas orações e súplicas, e muitas vezes pequena e humana que sou eu me revoltei por não conseguir enxergar que já estava sendo conduzida, que já estava sendo salva, que já estava sendo restaurada.
Mas para isto foi preciso morrer em vida, ser arrancada de onde eu estava, me ver sozinha, para só então entender o que estava acontecendo, e isto foi feito, muitas vezes à minha revelia, porque eu sou apenas uma mulher, um ser humano, e não conseguia entender os desígnios de Deus, não conseguia entender que haveria a necessidade de haver um grande rompimento em minha vida.
Quando eu finalmente entendi isto, e aceitei, este rompimento aconteceu! Com o rompimento, veio também o rompimento com a religião da minha família. Mas durante os últimos anos deste período de trevas, eu tão pequena dentro de minha visão não enxegava o que Deus estava fazendo por mim, e por não enxergar me tornei wicca, em busca de algo em que eu pudesse acreditar, mal sabia que na verdade era o rompimento acontecendo, não com Deus, mas com muitos conceitos que nesta época me mantinham em situação de morta em vida. |